sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Seda Preta

movem-se os desejos em cetim ou seda preta
e o Amor (estandarte de vitória num arco de triunfo)
pende agora: esfarrapado: das ruínas dessas torres:
gigantes de mármore: e o Amor torna-se lâmina e não
escudo: agora espada em cetim ou seda preta:
e o suposto amante: o suposto irmão: agora monstro
e o Amor (bandeira de infinito na varanda de deus)
é apenas mortalha de um sonho numa vala comum.


Igor Lebreaud

A Cantiga dos Dois Amantes

vou escrever-te uma cantiga: Não a outra: mais bonita:
um passo de valsa, um pouco de mazurka: começa num tango.
para letra: dois versos: o terceiro de improviso.
violinos já lá estão: falta piano e violão: e talvez a guitarra
pelos acordes já dados: Quase pronta: a canção.
presto, ma non tropo. tocamos sem maestro: começa num tango.


Igor Lebreaud

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Love is not a victory march



Tive de escolher entre um vídeo do O.C. (este) ou um do Shrek 3...
Enfim, mudam as imagens; a música é a mesma.


Hallellujah - Versão de Jeff Bucley

i heard there was a secret chord
that david played and it pleased the lord
but you don't really care for music, do you
well it goes like this the fourth, the fifth
the minor fall and the major lift
the baffled king composing hallelujah

hallelujah...

well your faith was strong but you needed proof
you saw her bathing on the roof
her beauty and the moonlight overthrew you
she tied you to her kitchen chair
she broke your throne and she cut your hair
and from your lips she drew the hallelujah

hallelujah...

baby i've been here before
i've seen this room and i've walked this floor
i used to live alone before i knew you
i've seen your flag on the marble arch
but love is not a victory march
it's a cold and it's a broken hallelujah

hallelujah...

well there was a time when you let me know
what's really going on below
but now you never show that to me do you
but remember when i moved in you
and the holy dove was moving too
and every breath we drew was hallelujah

well, maybe there's a god above
but all i've ever learned from love
was how to shoot somebody who outdrew you
it's not a cry that you hear at night
it's not somebody who's seen the light
it's a cold and it's a broken hallelujah

hallelujah...

terça-feira, 27 de novembro de 2007

No limiar da Porta Encostada do Amanhã
observo o possível quarto em que não entramos.
Nada nesta Porta se fará Carne.

[escolheste permanecer:
sentada: no antever da ombreira
de uma Porta: inerte]



Igor Lebreaud

Ups!

explicas Foi o erro e nada mais Como se o estilhaçar das
coisas belas fosse apenas o errar do pé Fora de sítio:
erradamente colocado à frente do outro. Que andar?
[disseste As palavras: não importam.E pediste que falasse]

já nem sei que tamanho têm: os meus pés.


Igor Lebreaud

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Podemos falar?

onde?
(na praia da areia negra; aqui onde o teu nome
se perde e Eu Sou Cada Grão Que Pisas e não choras
mesmo que por acaso me leves contigo Nos teus pés
Nus.)

onde?
(em nós. pobre areia negra que faz o sal do mar
onde te banhas e não percebes que Neste Lugar
sou eu quem desliza suave e louco na tua pele
Nua.)


Igor Lebreaud

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Fogo

foi o arder Das nossas peles [tão antigas como
o rosto por detrás do rosto sobre o altar] Dos
dias em purgatórios de absinto Das palavras que
como animais escondemos na areia [e eu fiz-me
claustrofóbica avestruz:e preciso de luz] Essas
palavras que nem em gestos aceitámos pronunciar.
foi o arder Que me ensinou os passos Da tua valsa.


Igor Lebreaud

domingo, 18 de novembro de 2007

Jazzy Blues para uma Polka

trazes uma mazurka no bolso e Eu um velho blues na Alma
de quem passeia perpendicular às vidas. Tu danças e rodopias
e Eu traço à navalha uma linha para mim. Que distância nos
Separa?
Nenhuma Distância.

"I Just Wanna Be With You", clama o meu rádio passageiro
e eu sei. Sim, sei:Chris Rea tem razão. Pouco importa.

dá-me a tua mazurka, leva-me nas tuas polkas(princesa de cores
num castelo que julgas que ninguém pode ver E eu posso)e
deixo a minha guitarra de papelão abandonada
Apago este cigarro de rotinas itinerantes Que tem o meu rosto

E vamos girar. Não piso teus pés.


Igor Lebreaud

sábado, 17 de novembro de 2007

O Regresso

(ainda [e sempre] para Liliana)

entende: do Passeio Num Céu Fechado: para o Rumo
Inalterável do Meu Caminho: é essa a hora que geme:
fecunda: no meu ventre. O Regresso: a uma casa
que dá pelo teu nome, que se desenha muito para lá
do visível.(diz-me:regressa e todos os teus pecados
se tornarão parte da Estrada Percorrida que foi esse
Passeio Num Céu Fechado: se o destino te atinge agora
e é este Mundo: Nós: esta Casa)
entendes?
no ventre de minha Mãe sei que já eu Gemia: esperava
esta hora que nasce: a Hora em que moras e onde
devo chegar: e apenas uma frase nos meus lábios:

esta rosa trouxe-a para ti.

fixa os olhos na porta: dessa casa que dá pelo teu nome
e entende: este é o Rumo Inalterável do Meu Caminho.


Igor Lebreaud

No tempo das Rosas

(para Liliana)

houve um tempo em que nos amávamos e eu
levava-te rosas de aurora e tu rias e era bonito.
hoje: não sei o que é mais distante:

se o tempo em que nos amávamos ou:
essa rosa: já gasta: num jarro sem água.



Igor Lebreaud

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Adeus

fechas-te na estranha casa de seres tu

e por mais que procures não te encontras.

foi o impossível jogo de nos amarmos

e a aposta foi demasiado alta para que

nos consigamos agora erguer e andar.

fechas-te na estranha casa de seres tu

e desapareces para sempre na ilusão

de que existe de facto um lugar que és tu.

fechas-te e definhas na casa vazia. morres

triste e tão só na casa vazia de seres tu.



Igor Lebreaud

Talvez Cancro

aquele homem da outra noite disse-me

“tu és estranha, levas os seios no rosto.”

mas levo-os no rosto por não caberem

no peito que me dói um pouco

e o médico já me disse

“não é cancro.”


aquele homem da outra noite era míope

e não o acusei de estranheza portanto

que mal tem carregar as mamas na face?

mas todos me fitam na rua

e comentam baixinho

“será cancro?”


aquele homem da outra noite não me deu prazer

porque insistia em beijar os meus seios.

era assim tão difícil afagar o meu peito?

vejo-me nua perante o espelho

e com a mão no peito vazio percebo

“é pior que cancro.”



Igor Lebreaud

não sei o porquê: a água do meu banho estava fria.
pedi explicações e disseram-me: está tão quente que
a pele cai antes de lhe tocar. mas para mim: estava fria.
era gelo: cortava-me a pele: e eu tremia: água tão fria.
chamaram doutores: a água fervia. para mim? estava fria.
não sabiam porquê: entrava no meu banho e nada sucedia
senão o frio que me consumia. e ninguém: ninguém entendia.
quem sabe porquê: para mim: aquela água: estava fria.


Igor Lebreaud

Anjo de Vidro Baço

Anjo de vidro baço. dizias num suspiro
tão triste como o tic do correr das horas e
o tac das horas que não regressam que
se reflectem apenas no vidro baço destas asas
que afagavas. e eu dizia-te Nem só os anjos.

e tu entendias e deixavas o silêncio percorrer
os ponteiros; soldados de chumbo marchando.

Anjo de vidro baço. insistias veemente
e eu deixava porque essas horas eram tuas.


Igor Lebreaud

Olhei-me no espelho frio

olhei-me no espelho frio Tão nua, pensei
e deixei as vestes dos dias correr suave
pela pele Massacrada, a minha pele
ferida. e a minha púbis Sarça
Ardente e tão virgem inesperadamente
fendida pelo nosso amor: duas mulheres
ofegantes de carícias As tuas tão cruéis.

o meu olhar Frio no espelho Tão feio
este reflexo. pobre fêmea nua defronte
de si. vejo-me no espelho. nua. a pele
ferida e no meu lugar Vejo um homem.
olhou-se no espelho frio Tão feio, pensou.


Igor Lebreaud