sinto agora o atingir-me do ontem: explosão
de átomos e fere-me a luz: de saber
que o dia em que nasci é: tão real
como este instante que me aproxima do túmulo.
estou agora na tua cama e no útero
de minha mãe e
na cova que me abraça e me diz o amor,
que bom que foi ter-me dentro de si.
sinto agora o meu dedo na minha boca
como mamilos erectos ou vermes
devorando-me a língua porque
tudo é matéria e talvez sonho-prisão
neste instante em que percebo a explosão
que me aperta e condiciona à estranha palavra
“agora”.
sinto agora o amanhã como passo já dado
e o teu corpo é o berço descoberto em que dormi e
o rubro veludo do meu caixão se afinal
me esmagam, me apertam, me atiram
para a estranha palavra “presente”.