quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

12 Badaladas

viajámos desde o lugar onde os segredos despertam
até à terra da meia-noite. foi suave; não a viagem
mas o chegar dos ponteiros. sentamo-nos agora
de olhos fixos no rastejar regular dos segundos e
sussurras "Que instante após o depois que chega?"
finjo não entender a pergunta: entender seria agora
o inútil dos nossos passos [ e gemem-me os pés ].
lá bem longe há a guerra e contas-me as balas
e os gordos de gravata roendo ossos. e a meia-
noite que já chega e os segredos murchos, secos
nas nossas mãos. "Não quero ser Homem", choras.
bem sei, "Bem sei." Escutamos o terror da meia-
-noite e
______as bombas, Meu Deus, as bombas e
o napalm [salvem as crianças, porra - AS CRIANÇAS!]
Pedes: "Conta-me um segredo." não aqui, "Não agora."
os ponteiros erguem-se, ávidos da hora crua.
doze badaladas: imperturbáveis. no horizonte
desperta o silêncio.
os ponteiros prosseguem e na última badalada
já a meia-noite passou e vai-se o silêncio e
o grito de um metralhadora recorda-nos
esmalte grosseiro sobre ossos tão tenros.
"É preciso um segredo; neste instante para lá do fim",
murmuras a medo. entendo: "Regressemos."
de pés em ferida partimos da meia-noite até
à terra onde os segredos despertam.


Igor Lebreaud

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