sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Botas de Aço

Katerina não dança, mas queria dançar: baloiça
suave baloiço nas botas de aço e diz que não canta: mas
sabe cantar. e é feliz no seu sorrir discreto e gosta de
chorar com o céu azul. Katerina diz que não onde dizem
que sim: mas é porque sabe que não: e não vê razão
para mentir assim. mas queria dançar e baloiça
suave baloiço nas botas de lastro que calça para não
sair do chão: porque se o céu é azul ela chora e
então sorri e apetece voar. Katerina sabe que a chuva
há-de passar: sem dúvida que há-de passar. amanhã
diz que será tudo um pouco mais leve e então baloiça
suave baloiço nas botas de aço que não quer tirar
não vá o céu escurecer e desatar a chover.

[tira as botas, Katerina.
voando para lá das nuvens:
todo o céu é azul.]


Igor Lebreaud

2 comentários:

Anónimo disse...

as tuas palavras têm sempre a capacidade de me proporcionar viagens muitos visuais e muito concretas. desta vez vi-me Katerina, puta numa estrada escura, relutante em tirar as botas de aço, sabendo que os candeeiros a qualquer momento se irão iluminar... e ao mesmo tempo que tudo isto vi e fui, vi e fui outra estrada, outras botas, outros candeeiros e luzes e escuridões.
muito lindo.
cassamia

Igor disse...

obrigado... procuro sempre um imaginário essencialmente visual e fico feliz por saber que, de facto, resulta.

PS: o teu comentário fez-me rir, mas a poesia vive para lá da vida pessoal de quem o escreve e já não é meu.
é que Katerina é o nome da minha querida namorada, das pessoas mais doces que existem. em todo o caso, pedi-lhe que me permitisse transformá-la em sujeito poético, pelo que perdeu a sua identidade humana nestas frases. em todo o caso, achei graça.